domingo, 29 de julho de 2012

Inércia

Me sinto imersa numa dimensão engolidora e pesada, me empurraram e eu estou nisso desde ontem.
Sinto peso no meu peito, no meu estômago e na minha cabeça.
Sai desesperada e sem ter pra onde. Bati com a cara na porta e dali sai sem rumo de novo, de volta à São Paulo sentei num banco e observei as pessoas naquele parque no seu momento descontraído, abri a latinha, um homem de camisa branca passou correndo na minha frente, estava sol e eu debaixo de uma árvore. Um comprimido e um gole de suco e coragem. O homem passou mais uma vez correndo, mais dois comprimidos e um gole de suco e coragem. Terceira vez e o homem passou correndo, li a bula. Mais dois comprimidos e sem suco e coragem. Um senhor sentou ao meu lado.
Guardei os comprimidos e tomei meu suco puro e quente.
Me sinto arrastada pelos acontecimentos ao meu redor, estou numa inércia que já dura mais de 30 horas.
Percebo o vazio dentro de mim, minha mente está me corroendo e nada mais tem um sentido vivo pra mim. Parece que minha esperança está no limite e meu amor começa falecer aos poucos, já não sinto mais dor.
Estou seca e em transe.
Uma ferida exposta, que sangra e me toma.
Anestesiada por uma solidão ameaçadora, medo de me olhar no espelho e sentir no meu sangue o pavor dos meus olhos.
Andei por uma avenida larga e movimentada por carros, sentia minha barriga levando pontadas de gelo mas meu sangue quente.
Fiquei desesperada e me senti uma partícula do tudo ou uma partícula do nada.
Eu necessito ficar com pessoas perto de mim, preciso ouvir vozes e conversas, preciso ver amor pra acreditar que sou uma partícula de alguma coisa que ainda vale a pena estar vivo. Preciso me ocupar, não quero falar nada mas quero ouvir essas pessoas conversando.
Ontem quando voltei pra casa, bati a cabeça na porta tentando achar aqui dentro algum motivo para estar ali, mas eu peguei o orgulho e engoli. Tive que sair depressa e desesperada daquele lugar, eu transbordei em lágrimas por estar ali, encontrei a mão de outro anjo que me buscou e me trouxe aqui.
Estado de espírito:


quarta-feira, 25 de julho de 2012

Vida longa à Guga...

porque eu não conseguia falar tartaruga.
Apareceu no meu quintal por um acaso,
com um coração desenhado naturalmente na cabeça.
Ah, mas como eu amei essa tartaruga.
Vivia com ela pra lá e pra cá,
fingia comer salada e dava todos meus tomates e alfaces pra ela.
Até que um dia tive que levá-la pra ficar na minha tia, pois mudei pra um apartamento e eu sentia que ela não tava feliz, tinha só um espacinho, não era justo com ela.
Lembro que levei ela numa caixinha de papelão com uns furinhos e abria toda hora pra ver se ela tava bem.
Foi desesperador deixá-la lá mas eu o fiz.
Descobri que na verdade ela era macho mas eu não tava nem aí,
hoje descobri que ela morreu.
Depois de anos e anos vendo ela só quando dava eu fiquei surpresa com a notícia.
Um amor amaciado, guardado, uma nostalgia de tê-la sempre comigo... me dá um sentimento vago e triste de saber que ela se foi.
Desejo toda a felicidade da morte pra ela, seja lá o que isso significa e nos vemos um dia de novo.
Tartarugas vivem muitos anos, acho que mais que nós seres humanos, e a minha morreu antes de mim. Mas ela já veio com muitas histórias no casco, só espero que não tenha morrido de solidão nem de tristeza. Fico me sentindo frustrada porque eu simplesmente abandonei ela lá, por achar que isso nunca aconteceria enquanto eu estivesse viva, sabe aquele brinquedo velho e usado que quando a gente cresce ele acaba sendo esquecido em algum canto de algum lugar. Uma ingratidão...

Acaso, destino, coincidência, ironia...chamem do que quiser, ela apareceu no meu quintal e eu chamei de Guga.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Corpos dóceis


    Estão na prateleira. Estão todos na prateleira. Há cérebros  dentro de potes, estão injetando ideias por seringas sujas. Cuspiram intolerância nos estômagos massacrados e jogados na pia. Pisaram sem dó nos corações. Quem são esses cientistas mal intencionados?
     Pobres corpos dóceis, vulneráveis ao adestramento como um cão. Estupradores de mente. Violentos e selvagens, saiam seus porcos nojentos! 
     É estúpido.

     Há antídoto, um véu que encobre tudo,aí eu sou dócil. Quero a estrada e sair sem rumo, a gente tomando conta da gente. Como um arrependimento, uma covardia, um "cair no mundo é o que eu quero mais". E vai sendo isso, nessa parada tem amor, tem pessoas que eu gosto muito, tem dor também mas tem amor. Escorre uma dor leitosa em meu corpo e absorve um gosto de felicidade, eu te pego emprestado e te devolvo, sem culpa.
     É bonito.

     Posso ser um antônimo de mim.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Colisão

Existe um lado muito obscuro que me faz querer vomitar tudo que eu escuto e vejo pelas ruas da minha cidade, de não engolir tudo que me dão e depois deixar me sedarem com falsas amostras de mundo feliz.
Por querer tanto a vida me dá uma gastância de gente,
um afastamento voluntário.
Um saco cheio de pessoas que se doem por tudo.
Existe um lado que controla minha insanidade,
que me inclina para a tradição da passagem: nascer, viver e morrer.
Há tempos que esses dois lados entram em colisão e eu deixo colidir
pelo simples motivo de que a quebra dessa monotonia, essa faísca que sai me dilacera mas é uma dor bonita, que eu quero sentir e me faz humana.
Tem dias que dá uma balançada, um passa de raspão pelo outro até que me sossega por dentro e me deixa em paz de novo.
Não sei dizer de que lado eu sou feita mas tenho os dois extremos e qualquer vento gelado em dias de sol me faz tremer a espinha e temer mais a ainda a solidão da noite.
O que o une os dois, esgotamento e o que me assusta de verdade é que meu maior perigo sou eu mesmo.
Dá pra sangrar bastante mas me cura, como se meu único sofrimento fosse eu e a cura também.


terça-feira, 3 de julho de 2012

"Parece cocaína mas é só tristeza"

Vestida para fingir estar bem
porque a verdade lhe escapa dos olhos.
Debaixo daquele figurino pomposo tem um manto quente e macio que protege seu peito contra as intempéries.
Uma casca grossa capaz de rasgar por ser frágil demais,
um conjunto de ossos dispostos de maneira equilibrada e
um conjunto desequilibrado de sentimentos dispostos a acabar com ela.
Uma insatisfação muito grande que dá vontade de vomitar todo esse esterco urbano
essa nuvem densa antes do sol se por dá desgaste físico e mental.
Já não tem estômago e sua cabeça pede tempo.
Venham injetar mais felicidade descartável, tem mais veias pulsando aqui.
Vai que assim ela pode sorrir melodicamente e depois rir de todo esse teatro
porque em uma das poltronas está localizada sua verdade, que assiste a tudo.
Vamos ver até quando fica de platéia, quando ela finalmente me escapar do campo de visão estarei livre.