domingo, 30 de dezembro de 2012

Estou indo

Estou indo ver a estrada
saber como o mar acontece
Estou indo ver da janela 
como as árvores correm
Levo mudas de saudade e amor,
lentes de esperança
e  um bom amigo

Pra deitar na areia, 
deixar o vento passar por mim,
pra me perder onde o mar termina e o céu começa
Pra saudar Iemanjá e amar a imensidão desse mar
Ser simples por inteiro


sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Um mar na minha janela

Falta um mar na minha janela, 
sobra um travesseiro na minha cama
Cai botão de rosa no carpete
nasce raiz pra fora do vaso
Entra o cheiro do alecrim
fica o perfume de quem passou por aqui
Vem barulho de fora
pra tirar o silêncio de dentro

Dá pra ver a lua, 
mas falta um mar na minha janela.
Tem ausência, indiferença e saudade
sem um mar na minha janela

domingo, 2 de dezembro de 2012

sábado, 24 de novembro de 2012

As batatas

Se eu como a poesia é porque sinto fome dela
Ela não mata a minha fome e me deixa com mais sede
Meu verso é bagunçado, sem escansão
minha rima é branca e
meu coração na mão.

Sou amarga pior que fel
e doce melhor que mel
Sei olhar no céu a imensidão
e a minha submissão

Na minha cama dormem os índios Guarani-Kaiowa e a Faixa de Gaza
nos cobrimos com o mesmo cobertor,
deitamos no mesmo colchão
comemos da mesma comida
somos filhos da mesma mãe

Só não faz sentido essa violência mirada no nosso peito
quando o sangue que escorre se deita no final
no mesmo rio do sangue que pela sua veia corre e aperta o gatilho que silencia nossos corpos.
Que dá no peito o choro quieto
que transpira dos meus olhos o grito mudo.

Não é nada humano e muito menos animal.
É desconsertante e oco.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Pras bandas de lá

Alguém pra me contar sobre o mar
Me diz se ele ainda espuma e como as ondas ainda quebram.
Alguma concha que me faça ouvi-lo
Esqueceram de me trazer os grãos de areia fina
meus dedos estão muito vazios.

Alguém pra me bater no coração
dizendo: ô de casa?

Te vi correndo pro mar,
não quis gritar pra não rasgar o ar.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Crie

Crie e descrie quantas vezes for preciso
até que incomode de novo e você se movimente
ocupe o espaço, saia da inércia.

Vamos parar com esse cinismo
somos várias caras mesmo
e disso estamos cansados de saber
e que bom que somos.

Imagina ter de ser o mesmo a vida inteira,
nem eu me aguentaria.

Ao invés de esperar, criemos!
Vivemos!
Brindemos!
Senhores, encham suas taças de vinho
damas, por favor, não desviem o olhar, entrem no jogo.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Rosa dos ventos

A dança das estrelas
A valsa da Lua e do Sol
Me lembram que eu tenho que me soltar das suas mão, sou passarinho
Meu coração pulsa acelerado

Eu ando curiosa, os olhos perdidos e o pensamento longe
Na minha mala não levo nada para me achar
minha rosa dos ventos me leva pra fora daqui e pra dentro mundo
Porque eu não quero me encontrar com ninguém,
eu quero me perder por aí.
O amor vive em mim mas a liberdade corre pelas minhas veias, ela grita, pulsa e chora.

Mas às vezes só quero correr pra debaixo do cobertor e sentir seus braços e seu peito nu
e perceber seu coração, me encher com o seu sossego.

Mas tem a minha gente sofrida. E essa dor do mundo que me rasga.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Versinhos pra deixar

Uns versinhos para deixar
Deixar-se tocar
Sentir
Despir
Descobrir
Deixar-se permitir
Deixar-se ir
Deixar-se voltar
Deixar o vento entrar
Olhar o vento balançar
Deixar o vento derrubar
Deixar o sol na água dourar
Deixar mais tempo ficar
Deixar-se a hora esquecer
Deixar-se os lábios na pele umedecer
Deixar-se beijar
Derramar
Desfazer
Se recolher
Esparramar
Deixar tudo aqui e ir sem nada pro mar

Deixar o peito aberto
Deixar os olhos no horizonte
Deixar os pés paralelos
Deixar a pele tocar o chão
Deixar eu, deixar você
Deixar, sorrir e sonhar.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

E isso dói

Não tem a ver com o fato de ser nova
não tem nada a ver com estar em época de vestibular
não tem nada a ver com ser mulher
Não tem nada a ver com começar com um "Não"
Tem a ver com ser humano
ser feito para sentir e ser tocado.

Sinto uma dor esmagadora no peito
não sei dizer as dimensões que isso toma dentro de mim
só sei que dói.

Queria não ter medo do que outra gente como eu
poderá fazer comigo ou com quem eu amo
se saíssemos de madrugada pra conversar e aproveitar a lua.

O que estão fazendo com essas roupas?
Descansar!
Tirem suas armaduras enrijecedoras,
soldados, hoje não haverá guerra.
Ninguém fará um discurso, passando em cima de corpos,
dizendo que há um vencedor da guerra que acabou com as guerras.

Porque morte não gera vida e não é sinal de vitória.
Assassinos não só dos corpos dos quais fizeram o coração parar,
mas dos corações que ainda batem com a perda, aquela incalculável e dolorida.

Eu não sei explicar de dentro pra fora
às vezes não sai alguma coisa.
Mas eu sei da dor que me aperta o peito
da minha indignação que transborda.
Do meu grito interno que goteja por fora,
como se fosse suave mas a minha dor é absurda,
por eu não poder abraçá-los e dizer que tá tudo bem agora e pedir desculpa.

A vida se resumiria em deitar na grama e ver o céu de noite, deixar a lua iluminar, as estrelas brilhar, a cadente passar contente e eu olhar e entender que a vida é mais bonita mesmo olhando de baixo, sem submissão.



quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Síntese de um mal-humor












Ufa!

Tava precisando respirar,

pra não xingar e ser extremamente sincera e desagradável.
É nessas entrelinhas que a gente se esconde.

Tragam-me o termômetro e mais um comprimido e se possível uma garrafa de vinho, podem sentar-se e permanecer calados. Vou atingir vocês pelo meu silêncio, vocês falam demais, me cansa.

Senhoras, por favor, não alimentem os animais.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Estabeleça contato

Escaldar com água quente
derramar amor em mim
deixar formas na pele ao invés de pegadas no chão
sentir o perfume molhado do vento frio

Vai chover amor,
os homens lavarão a calçada do ódio
As farpas vão corroer as tuas ideias, te deixando exposto.
Vou te conhecer pelo amor que vai te enxugar a pele.
Levantarão a poeira da generosidade
e aos poucos irá impregnar,
começando pelos seus pés, uma energia
ela tomará você, vai ser maior que o corpo
o universo vai sussurrar deliberadamente o amor em seus ouvidos
e alucinantemente você vai virar gente.

Seus lábios serão de ternura,
seu olhar perfurante
Vai entrar na alma,
será assustador mas
será gente.
Da suas pálpebras escorrerá saudade
nos teus dedos terá um filtro,
estabeleça o contato.
Câmbio.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Apele

Pele pra quem sente
Pele com pele
Pele com grama
Pele na lama
Pele no vento
Pele do tempo
Pele do corpo
Pele queimando
Pele sentindo
Pele enrugando

Pele pra quem tem
Pele no peito
Pele que protege
Pele que absorve
Pele exposta
Pele escondida
Pele em movimento
Pele de tocar
Pele que estica
Pele que fica
Pele pra furar,
Pele pra amar
Pele de sentir outra pele.
Pele que respira
pra pele que transpira.

Pele sua, pele minha, pele nossa
pele pra sentir na pele.
Pele que pede pele.

sábado, 15 de setembro de 2012

Dia de deixar

Desde que seja amor, que venha rasgando
Porque hoje as luzes estão coloridas
a estrada tá boa
e pra ver as estrelas é preciso dedicar um tempo à cada uma

Tem um Bob Dylan na gaita
o copo cheio de devaneios
e meu corpo pedindo malemolência

Desde que seja leve, que venha pra ficar
e ir embora
Porque eu sempre vou,
às vezes volto.
Sou um balanço no parque
e que me leve o vento...
Deixa ir, ficar, tocar, beijar, amar... hoje só vamos deixar.

Vai, que hoje é dia de deixar pra lá
de dar um chega no aborrecido
de ser gente feliz
Vai, que o farol abriu e a avenida é longa.
Aumenta o som, sente ele te infiltrando,
Molhe os pés e deixe ao vento, deita o corpo, esquece a mente... viaje.
Quem é você agora?
Ninguém, eu não quero ser ninguém além de mim.



terça-feira, 11 de setembro de 2012

Solto

Quando as mão se cansaram do esforço, soltaram
Dentro dessas patas felpudas e graciosas tinham garras.
Não foi um solto qualquer por aí
Foi uma tragédia solta.
Rasgada, dilacerada.

O ruim da ferida exposta é que não tem band-aid que disfarce
Aí você pode ser quem quiser mas tua ferida não te engana.
Dá onde vem esse roxo em tua perna?
Por onde andas com esse pé calejado?
Com quem te deitas com essas costas marcadas?

Com o pouco que lhe resta de dignidade,
o caminhar pesado e vagaroso, responde:
Tive um dia difícil
Roxo vem de um acidente que vi
Meus calos, da árdua rotina de nossos trabalhadores
Me deito sozinho, minhas marcas são lágrimas do meu corpo em deleite.
Mas isso pouco me importa, a gente sabe se virar como nunca antes nos viramos.
E você, por onde deita seu coração?

Tem bichos nojentos debaixo desse manto
e cada vez que você insiste nessa farsa
eles te comem pela alma.

domingo, 9 de setembro de 2012

Chorinho

Tô cansa de cuidar de mim,
de fazer comida todo dia,
de me preocupar com a limpeza da casa,
de verificar se o lixeiro passou,
de aspirar a casa,
de tirar a poeira.

Quero passar um dia na cama, deitada no colo.
Quero que me tragam comida feita na hora sem eu precisar levantar,
que sentem todos aqui no chão e que a gente passe o dia inteiro falando
mas sem dizer muita coisa.
Aliás, vocês podem me fazer uma surpresa ?
Daquelas sem data especial para acontecer.
Apareçam na minha porta com uma garrafa de vinho e um colo bom de deitar.
Vou ficar de vento em polpa.

Mas me polpa,
dessa louca que quer cuidar de mim.

Só tô pedindo um pouco de desassossego.
E fica estabelecido que a partir de hoje é proibido passar mais de algumas noites sozinho.
Quem for pego semeando a solidão será severamente punido.

Só tô cansada de ser o estimulo,
o pontapé inicial,
de combinar as coisas,
de decidir coisas.
Alguém decide por mim? Não quero assinar nada, digam que não estou. Saí, fui embora correndo.
Alguém pode combinar as coisas comigo? Me fazer surpresas, ser criativo...
Alguém pode vir me visitar e ficar quietinho, mesmo sem entender nada do que eu faço, quietinho... só ficar comigo.

É que eu não tenho saco pra todas essas exigências,
pra todo esse ritual cafona,
pra comer pelas beiradas.

Só tô cansada dessas marcações,
dessa mecânica de movimentos.
Alguém pode ser espontâneo,
do tipo de ligar, aparecer, brigar quando tem vontade?
Alguém, alguém, alguém?
Tem alguém aí?
E aqui ?

Eu não sei usar essa droga de tempero
Minha comida ou é salgada ou é sem sal.

sábado, 8 de setembro de 2012

Bandeira branca, amor!

O vento balançando a salsinha lá fora,
a Arruda toda chorosa pela carência de atenção.
A samambaia preguiçosa saindo do vaso
na janela a orquídea não se cansa de tomar sol
As margaridas brancas de algodão olham atenciosas para o teto
O hortelã, meu bibelô, todo crescido querendo mostrar-se maduro
As flores amarelas no corredor dançam com o laranja da parede
na área o feijão tá pra dar flor e a
dama-da-noite, dengosa, convida o feijão para um sol malemolente.

No relógio os ponteiros vão vagarosamente passeando no tempo
e na cozinha o cheirinho de pimenta-do-reino
Não sabe o que é especiarias quem nunca sentiu o seu cheiro, vossa majestade.
Um toque macio, daquele creme de morango, na pele e marcas de um pulo de gato nas pernas.

Depois de uma manhã fresca e convidativa
a gente é capaz de renunciar as dores do mundo por um pós-feriado com carinha de sossego
Vou deitar nesse barco e embarcar na ribanceira
que seja leve
mas que eu sinta o frescor das folhas de lima-limão no ar e a água gelada respingando
Se eu te contar que fechando os olhos eu sinto o balancinho pra lá, pra cá, desse rio...
Pernas pra quem te quer!
Eu tô indo nessa viagem porque eu tenho a idade do tempo e ele corre, soltem as cordas marujos, e aos doídos... bandeira branca, amor!
Aos viajantes um até logo e
pro sindico eu deixo aquele abraço!

Au revoir!

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Drogas modernas

Tem alguma coisa nessas tardes desvairadas que passam com a sensação de dia perdido
Dá pra ler nas redes as mesmas coisas de sempre,
há aqueles que se mostram céticos de tudo, não gostam de nada e sempre estão criticando, não gastam tempo falando de si mas usando outros para se mostrar.
Há aqueles que apelam para ser mais que um em um milhão.
Não sei quem eu sou nisso tudo mas
eu sinto uma preguiça de tudo isso, do de sempre.
Num espírito colérico eu vou enojando e silenciando no miudinho, pequenininho
e embebida de tolerância eu acho graça nos comportamentos.
Tá em alta dar nome pra tudo, pra estilo, jeito, comportamento e sei lá,
não me interessa, tenho preguiça.
Confesso que eu sou várias pessoas,
Me despedaço pra depois me recolher e nenhum dia fica igual o outro.
É de lua, de bipolaridade, de sei lá.
Mas se você quiser posso me apresentar.
Sou Ingrid, Renata, Maria, vento, sol, terra, colchão, chão e céu.
Sou isso hoje, amanhã sei lá o que.
Capaz de sentir o vento, imagine então o máximo que a pele pode sentir.

Ontem eu vi um balão,
e o mundo nem sabe disso
Mas se ele soubesse talvez iria compartilhar e curtir
mas só isso.
Ninguém além dos que estavam naquela noite poderá partilhar da minha emoção ao ver o tal balão em noite de lua cheia, céu azul e boas estrelas.

De todos os silêncios eu prefiro o da estrada,
com uma respiração quente nos meus ombros e um calor de outra pele,
isso me acolhe na vida.

sábado, 25 de agosto de 2012

Os Não-declarados

Saudade é uma trepidação que vem, toca e sai correndo.
Fora do eixo e a lua vazia
um polvo que enlaça nas costelas e as puxa
até um rompimento do limite do que é corpo, do que é alma.

Deitou em mim o peito aberto
achei um jeito fácil de me acomodar entre seus ombros
Afagou meus cabelos
achei um jeito fácil de amar

Sofro de amores emprestados
Pego a nobreza e beleza dos olhares apaixonados e me apaixono pela paixão dos enamorados.
Vivo de empréstimos, de amores que não são meus.
Mas às vezes dou pra amar, sem comunicar o meu amor.
Vivo de amores meus, gentis e generosos. Não pedem troca.
Tenho todos, sempre quando quero, os amo, dou carinho, me doou
mas me faz falta a consciência desse amor da parte de lá.
Tô querendo o inteiro agora,
aquela paixãozinha de borbulhar os poros.

Eu amo junto com os namorados,
faço parte do relacionamento e eles nem sabem.
Meus amores são os não-declarados.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Da onde ?

Queria saber se de barriga cheia a gente ainda pode sentir fome.
Porque se puder, quando a gente tá com fome de mais vida, o que a gente come ?
Aquela vida de aventura, de vento e sol.
Posso me empanturrar disso que a gente come pra matar essa fome ?
A fonte deve ser farta mas difícil é achar essa fonte.
Tô trilhando caminhos alternativos pra chegar mas fico encabulada,
como nunca pensei em ir direto ao ponto ?
Sinceramente, eu não gosto de andar nessa estrada asfaltada,
me dêem água, preciso molhar.
Molhar meus pés, molhar a blusa, molhar os cabelos, lavar meu rosto.
Molhar minha vida, fertilizar a caminhada.

"Da onde você é ?"
Vim de uma fonte, brotada da vida, sou filha da Terra e já nasci submissa a uma força superiormente desconhecida, me falaram pra ter fé mas eu prefiro não passar debaixo da escada.

Tenho duas correntes fortes correndo em paralelo,
quando me inclino mais para uma a outra me deixa cair.
Feitora de erros, cansada da certeza.
Engraçado você perguntar da onde eu sou,
só me perguntam pra onde eu vou.
Eu vejo todos indo o tempo todo.
Sinto como se eu nunca fosse daqui,
Estão todos falando ao mesmo tempo,
fiquem quietos, deixem eu me escutar.
Há um surto pragmático entre nós,
vamos fugir de lenço sem documento.

domingo, 19 de agosto de 2012

Pro que eu chamo de... estreito.

Queria escrever o contido
um poema ou poesia contida
que fizesse sentido
ou só falasse da vida
que fica espremidinha
acanhada e pequenininha

Mas as palavras não parecem à altura
de algo tão grande
Imagina, se nem meu coração pode conter o mundo dentro dele
quem dirá as palavras.

Mas será que tem uma resposta 'praquilo' que a gente não diz ?
Talvez o corpo me entenda,
ou me traia
Mas se for isso mesmo então
o que me une e me trai está em mim?

Ah, mas tem seus olhos
eles falam com seu coração,
vai saber o que ele diz...
Sua pele, acho que posso confiar no calor da sua pele,
se ela me trair tudo bem, desde que seja quente nos dias de frio
e fresca nos dias mais escaldantes.

Mas se pra Kilo tem grama
então pra cada um cabe uma interpretação
do meu contido, do meu pequenininho, espremidinho.

Não sejam exigentes comigo, permitam-me escrever como quiser
Deixa que eu o faça,
e se não fizer, não era pra ser.

Fala, que eu te sinto

Hmm que bom escutar o murmurinho daqui de dentro de mim
Aquele tempo que você tira os sapatos, desnuda a alma e fica dentro de você.
Um espaço no tempo que você consegue se desassociar e sentir o caimento do seu corpo no tablado.
O som dos estralos e da respiração formam a linguagem comunicativa do meu corpo.
Deixo a cabeça pesar, logo em seguida o pescoço, ombros, externo, região pélvica e meus joelhos num balanço calmo.
Num estado primaveril a gente vai se relacionando internamente com o outro, estamos nos abrindo aos poucos.
Eu percebo e sinto e sou percebida e sentida.
Eis aqui tudo que eu mais anseio, a generosidade do teatro.
A minha doação, o meu externo aberto a doações.

Flui um rio estreito e leitoso dentro de mim que corre por todas as partes do meu corpo
e a cada respiração inunda meus olhos de amor e meu coração de calmaria.
Dá pra sentir as energias que se deitam nesse meu rio,
evaporando uma energia da cor do meu espírito.
Como se eu entrasse carregada das energias de todos os passantes da rua e do metrô
e naquele momento eu vou mudando de cor, de energia.

A noite, quando me deito, tenho o corpo pra mim e meu momento gasto dentro de mim.
Numa sensação de estar maior que o corpo eu me sinto no caminho certo
e uma paixão que me anima e me inspira, chamada Teatro.
Na qual todos dependem de todos sem que essa seja uma relação degradadora e parasita
mas uma relação de amor e generosidade, muita generosidade.


domingo, 12 de agosto de 2012

Deixa amar-te, Terra Anil.

Como não sentir amor ?
Aquela terra que castiga e faz feliz o povo do sertão indolor,
aquele povo que faz rir e amar a terra seca.
Deixa eu deitar do seu lado na rede, presa.
Posso observar a onda que se forma.
Me sentir embebecida pela beleza que contorna.
Quero tocar meus pés nessas areia quente e voltar correndo pros braços de Iemanjá,
deixa eu me confundir na espuma branca desse mar,
vai, quero que você me perca na confusão das ondas.
Vamos observar daqui dessa pedra a rede sozinha balançar.
O vento finalmente, parou para se deitar.

Na sombra posso me sentir invisível, sem roubar os raios de sol.
Vou pintar essa beleza no meu coração,
vou amar essa gente sofrida e de coração bom
Me castigue também, ó pátria amada!
Como não amar a beleza do mundo?
Grandes filósofos me ensinam a ver com cautela os homens brancos mas
deixa amar-te, Terra anil.

domingo, 29 de julho de 2012

Inércia

Me sinto imersa numa dimensão engolidora e pesada, me empurraram e eu estou nisso desde ontem.
Sinto peso no meu peito, no meu estômago e na minha cabeça.
Sai desesperada e sem ter pra onde. Bati com a cara na porta e dali sai sem rumo de novo, de volta à São Paulo sentei num banco e observei as pessoas naquele parque no seu momento descontraído, abri a latinha, um homem de camisa branca passou correndo na minha frente, estava sol e eu debaixo de uma árvore. Um comprimido e um gole de suco e coragem. O homem passou mais uma vez correndo, mais dois comprimidos e um gole de suco e coragem. Terceira vez e o homem passou correndo, li a bula. Mais dois comprimidos e sem suco e coragem. Um senhor sentou ao meu lado.
Guardei os comprimidos e tomei meu suco puro e quente.
Me sinto arrastada pelos acontecimentos ao meu redor, estou numa inércia que já dura mais de 30 horas.
Percebo o vazio dentro de mim, minha mente está me corroendo e nada mais tem um sentido vivo pra mim. Parece que minha esperança está no limite e meu amor começa falecer aos poucos, já não sinto mais dor.
Estou seca e em transe.
Uma ferida exposta, que sangra e me toma.
Anestesiada por uma solidão ameaçadora, medo de me olhar no espelho e sentir no meu sangue o pavor dos meus olhos.
Andei por uma avenida larga e movimentada por carros, sentia minha barriga levando pontadas de gelo mas meu sangue quente.
Fiquei desesperada e me senti uma partícula do tudo ou uma partícula do nada.
Eu necessito ficar com pessoas perto de mim, preciso ouvir vozes e conversas, preciso ver amor pra acreditar que sou uma partícula de alguma coisa que ainda vale a pena estar vivo. Preciso me ocupar, não quero falar nada mas quero ouvir essas pessoas conversando.
Ontem quando voltei pra casa, bati a cabeça na porta tentando achar aqui dentro algum motivo para estar ali, mas eu peguei o orgulho e engoli. Tive que sair depressa e desesperada daquele lugar, eu transbordei em lágrimas por estar ali, encontrei a mão de outro anjo que me buscou e me trouxe aqui.
Estado de espírito:


quarta-feira, 25 de julho de 2012

Vida longa à Guga...

porque eu não conseguia falar tartaruga.
Apareceu no meu quintal por um acaso,
com um coração desenhado naturalmente na cabeça.
Ah, mas como eu amei essa tartaruga.
Vivia com ela pra lá e pra cá,
fingia comer salada e dava todos meus tomates e alfaces pra ela.
Até que um dia tive que levá-la pra ficar na minha tia, pois mudei pra um apartamento e eu sentia que ela não tava feliz, tinha só um espacinho, não era justo com ela.
Lembro que levei ela numa caixinha de papelão com uns furinhos e abria toda hora pra ver se ela tava bem.
Foi desesperador deixá-la lá mas eu o fiz.
Descobri que na verdade ela era macho mas eu não tava nem aí,
hoje descobri que ela morreu.
Depois de anos e anos vendo ela só quando dava eu fiquei surpresa com a notícia.
Um amor amaciado, guardado, uma nostalgia de tê-la sempre comigo... me dá um sentimento vago e triste de saber que ela se foi.
Desejo toda a felicidade da morte pra ela, seja lá o que isso significa e nos vemos um dia de novo.
Tartarugas vivem muitos anos, acho que mais que nós seres humanos, e a minha morreu antes de mim. Mas ela já veio com muitas histórias no casco, só espero que não tenha morrido de solidão nem de tristeza. Fico me sentindo frustrada porque eu simplesmente abandonei ela lá, por achar que isso nunca aconteceria enquanto eu estivesse viva, sabe aquele brinquedo velho e usado que quando a gente cresce ele acaba sendo esquecido em algum canto de algum lugar. Uma ingratidão...

Acaso, destino, coincidência, ironia...chamem do que quiser, ela apareceu no meu quintal e eu chamei de Guga.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Corpos dóceis


    Estão na prateleira. Estão todos na prateleira. Há cérebros  dentro de potes, estão injetando ideias por seringas sujas. Cuspiram intolerância nos estômagos massacrados e jogados na pia. Pisaram sem dó nos corações. Quem são esses cientistas mal intencionados?
     Pobres corpos dóceis, vulneráveis ao adestramento como um cão. Estupradores de mente. Violentos e selvagens, saiam seus porcos nojentos! 
     É estúpido.

     Há antídoto, um véu que encobre tudo,aí eu sou dócil. Quero a estrada e sair sem rumo, a gente tomando conta da gente. Como um arrependimento, uma covardia, um "cair no mundo é o que eu quero mais". E vai sendo isso, nessa parada tem amor, tem pessoas que eu gosto muito, tem dor também mas tem amor. Escorre uma dor leitosa em meu corpo e absorve um gosto de felicidade, eu te pego emprestado e te devolvo, sem culpa.
     É bonito.

     Posso ser um antônimo de mim.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Colisão

Existe um lado muito obscuro que me faz querer vomitar tudo que eu escuto e vejo pelas ruas da minha cidade, de não engolir tudo que me dão e depois deixar me sedarem com falsas amostras de mundo feliz.
Por querer tanto a vida me dá uma gastância de gente,
um afastamento voluntário.
Um saco cheio de pessoas que se doem por tudo.
Existe um lado que controla minha insanidade,
que me inclina para a tradição da passagem: nascer, viver e morrer.
Há tempos que esses dois lados entram em colisão e eu deixo colidir
pelo simples motivo de que a quebra dessa monotonia, essa faísca que sai me dilacera mas é uma dor bonita, que eu quero sentir e me faz humana.
Tem dias que dá uma balançada, um passa de raspão pelo outro até que me sossega por dentro e me deixa em paz de novo.
Não sei dizer de que lado eu sou feita mas tenho os dois extremos e qualquer vento gelado em dias de sol me faz tremer a espinha e temer mais a ainda a solidão da noite.
O que o une os dois, esgotamento e o que me assusta de verdade é que meu maior perigo sou eu mesmo.
Dá pra sangrar bastante mas me cura, como se meu único sofrimento fosse eu e a cura também.


terça-feira, 3 de julho de 2012

"Parece cocaína mas é só tristeza"

Vestida para fingir estar bem
porque a verdade lhe escapa dos olhos.
Debaixo daquele figurino pomposo tem um manto quente e macio que protege seu peito contra as intempéries.
Uma casca grossa capaz de rasgar por ser frágil demais,
um conjunto de ossos dispostos de maneira equilibrada e
um conjunto desequilibrado de sentimentos dispostos a acabar com ela.
Uma insatisfação muito grande que dá vontade de vomitar todo esse esterco urbano
essa nuvem densa antes do sol se por dá desgaste físico e mental.
Já não tem estômago e sua cabeça pede tempo.
Venham injetar mais felicidade descartável, tem mais veias pulsando aqui.
Vai que assim ela pode sorrir melodicamente e depois rir de todo esse teatro
porque em uma das poltronas está localizada sua verdade, que assiste a tudo.
Vamos ver até quando fica de platéia, quando ela finalmente me escapar do campo de visão estarei livre.

sábado, 30 de junho de 2012

Subs. m [əʃ'tadu] 3. Disposição emocional

A gente não pode se privar de amar
Então que amemos mesmo, com gosto.

E se dilacerando e jogando com tudo que amamos,
ainda não encontrássemos um resquício de amor?
E se eu escrevesse poesia sem regras e entrasse nas pessoas,
então poderia conversar com sua alma?
E se não regássemos mais as raízes que nos prendem nesse lugar,
seria possível voar ?
Poderia então dar as costas e deixá-los falando sozinho,
sem me importar?

É alimentador de um estado de espírito superiormente fudido,
Erros desastrosos pra depois ganhar na loteria, da dúvida.
Num bulbo de trevo de quatro folhas está a sorte pra que ?
Quem disse que eu precisava disso?
Vai, quero ver toda essa seiva irrigando minhas veias.
Tragam terra, vamos plantar vida.
Veremos o que podemos colher desse jardim.
Alucinação.


domingo, 17 de junho de 2012

Ainda é público


Afinal, purê antes de ser purê, é saco de batatas.
Aí já viu né, a gente dá pra amar errado,
se dana pra entender o erro,
mas ninguém se entende.

A gente grita nossos pulsos toda hora,
mas  a surdez é uma verdade lavada.
E o seu relacionamento uma mentira deslavada.
Bom seria, chegar suave, incomodar sutilmente,
fazer uma baguncinha, revirar um pouco os nossos móveis internos.
Abrir umas gavetas e deixar que novas folhas as preencham, vamos ser amor também.

Aproveitemos enquanto amor ainda é público,
nossa fome ainda é grande e nosso corpo ainda tem alma.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Cobertor

O problema foi,
o problema é,
o problema será.
Mas o problemas está sendo.

Deixa eu levantar grama e me deitar na terra
posso me cobrir de estrelas e pousar meus ouvidos em raízes.
Mas falta,
falta calor, batimento, pernas e braços.
Porque o problema está acontecendo.
Deixa de ser roupa, marca e sacolas "shoppinguis"
Vem ser problema também.
que é sendo problema que se acha a solução para criar novos problemas.
Vem ser ciclo, vem ser vicioso.
Não falta nada se você se cobre com meus braços e pernas,
pousa minha pele em você,
levanta terra, deita na grama.
Que isso não é problema,é objetivo depois de conflito.

"Não façam guerra, façam amor"

terça-feira, 5 de junho de 2012

À margem da vida


















Foi enrolando o corpo aos poucos
gota por gota até virar poça.
A chuva caiu em  folhas outonais
aquele sad blues da vitrola virou estrada

Lhe atingiu o estômago e calou seus lábios
o nome, a imagem, o som.
Foi em transe que ela cambaleou pra trás
e repetiu pra si o nome, a imagem, o som.
Assombra-te menina a vida como a morte lhe rouba a vontade aos poucos.
Gazela aflita, segura esse coração que pelo estômago te atinge.


A poça d'água viajou pela costa
na margem da vida quase caiu
O corpo que virou gota e já foi poça agora é rio
que toda noite a lua leitosa pousa
e descansa os ouvidos e silencia.
É que de noite passarinho dorme pra levantar cantando.


domingo, 3 de junho de 2012

Por que não arquitetura?

Escolhi esse ano pra entrar em época de vestibular, digo escolhi porque não existe a hora certa, posso prestar quando quiser, ando em constantes conflitos paradoxais comigo. O problema é que ainda não sei exatamente e com certeza o que quero fazer. Me apaixono constantemente por biologia (Botânica/ Ecologia), o teatro é cada dia mais fascinante pra mim, a situação da minha sociedade me incomoda profundamente e eu definitivamente quero arte sempre na minha vida. Arquitetura é o que me falam, faço até reforço pra prova específica mas não é isso ainda. Estava assistindo um video e achei exatamente o que me deixa com um enorme sentimento de culpa toda vez que penso em fazer arquitetura.

"Tu acha que arte é função. Artista de decoração pra mim é um artista falho, um artista fútil, vazio. O cara faz bem, ele tem sensibilidade e não olha pro mundo em volta, não se solidariza com o sofrimento da maioria. Ele quer fazer parte da elite, é isso que é atrelado 'queira fazer parte da elite'. E fazem com que os pobres tenham o mesmo desejos que os ricos. Isso é um absurdo, uma ignorância. Aí, já é apelação. As pessoas acreditam mesmo que isso daqui é uma democracia. "

Basicamente resume o que eu penso. Não quero  fazer a arte inacessível, alienada. Quero interferir, mudar, ampliar, conhecer, dar vida...

domingo, 20 de maio de 2012

Chuva de lobos

Como um espírito jovem de querer fugir
pegar a mochila com algumas peças amarrotadas de roupa e ir
Pra ganhar o mundo e sentir o ar gelado refrigerando todo o peito
Sentir nos ombros o peso da liberdade
Se preocupar com a fome na hora que ela der as caras
Deixar nas pegadas de ontem todo aquele engano que fazemos o tempo todo
enterrar no asfalto até que a chuva leve embora toda a mentira secular de nossas vidas.
No meu estômago uma intolerância, um mal-estar de toda essa gente.
Os dias de porta fechada são para serem incomodados com o som de fora e não de dentro,
há no cansaço uma vida fingida que levamos como verdade.

domingo, 6 de maio de 2012

Ladainha do 1º domingo de Maio

E às vezes  eu procuro encontrar o que eu espero. Sei lá, deve ser bom deixar as coisas mais organizadas, dobrar as roupas jogadas pelo chão e guardá-las no guarda-roupas, passar o aspirador, abrir as cortinas e as janelas e colocar as flores para viver na janela. Pregar no alto da janela um prego e pendurar aquelas águas para beija-flor. Mudar o colchão de lugar, deitar e da cama ver a lua.Aí aquela lista de reprodução te presenteia com um sax.Um querer fazer parte do mundo verde lá fora e estar preso nessa selva cinzenta, o que será que me prende nesse lugar?

domingo, 29 de abril de 2012

Final de Abril

Céu cinzento e nublado
Colcha florida na cama, sutiã e calcinha
e aquele cheirinho de hortelã molhado
chuva lá fora e uma fresta na janela aberta.
Água fervendo no fogão
contagem regressiva de 3 min. no relógio do microondas.
Garfo balançando na mesa ansioso pelos cachinhos da panela.
Roupa úmida.
Meias nos pés e um moletom amarelo.
Ao som de Queen o talharim vence o hortelã.
Casa sozinha, 
algumas ligações queridas e um nariz dolorido.
Comprimido alaranjado e um documentário sobre animais selvagens da amazônia.
De volta ao cheiro de hortelã
Um avião passando lá fora
Sem Lua e constelações
Um feriado no calendário e uma cama comigo.
Ás vezes é bom estar sozinha.

Potência

Faltar ao mundo assim como me faltam as palavras
Ganhar a liberdade assim como se ganha o dinheiro
Apontar o dedo com a mesma facilidade de criticar
Expandir os horizontes assim como a rotação da Terra
Unir-se à uma ideologia como um cordão umbilical
Chorar o esforço como se tira o suco de uma laranja
Melancolia.
Aspirar conspirações assim como se lança à lucidez
Intolerância como crise material
Pressão religiosa como forma de amor absoluto
Jesus comercial assim como fiéis fregueses.
Unilateralismo como o maior exército do mundo
Acabar com a miséria impondo poder
À favor da segurança e da paz assim como ser o maior produtor de armamentos
Democracia, clemência, postura e olhar no horizonte.



sábado, 28 de abril de 2012

Vacas Magras

Talvez, quem sabe, estamos em guerra. Tendo em vista que nossos hospitais públicos distribuem leitos pelos corredores nos quais pessoas com aspecto dolorosamente doentio são medicadas, há vômitos no chão, outros estão em horário de refeição e têm em mãos uma marmita surrada. Os sanitários já não têm portas e identificação, o cheiro que se mistura com a cor amarelada das paredes e as ferrugens do encanamento disfarçado na cor branca é degradante. Esses corredores qualquer um tem acesso e pode facilmente trocar ou parar a medicação de um paciente, enquanto outros pacientes em condições não tão piores vagam pelo "hospital". Ora se não é um retrato de um hospital em épocas de vacas magras.
A mãe-natureza dá a luz ao filho homem, este que mais tarde a trai, fere e destrói. Troca sua raiz por alguns sacos de moedas de ouro, e então o antigo filho da natureza se torna uma mercadoria que qualquer um compra, olhando por esse lado até que soa econômico.
Liberdade de expressão, um nome pomposo que se tirar os enfeites vira pó e de brinde um tapete e uma vassoura.
Índio sai, floresta fica. Floresta cai, dinheiro vem. Dinheiro vem, mais índio sai. Espreme-se tudo até a última nota, quando o filho do dinheiro já não sabe mais onde encontrar mais moedas de ouro, espreme seu próprio sangue verde, se destruindo por uma gota de moeda e uma corrente de dinheiro. Respiram cinza e amam menos.
Religião que virou Instituição chamada Igreja e já escravizou o homem em prol do bem-estar financeiro e do poder autoritário, já foi mais esperta que o Pink e o Cérebro juntos e podiam ter dominado o mundo.
Ainda pode-se escutar pelas mídias que os jovens são o futuro da nação. O futuro da nação uma ova. O futuro da nação é todo mundo aqui presente, uma responsabilidade e dever de todos.
Mas o filho da selva de pedra anda ocupado lendo o resumo do circo televisivo e fazendo caca nas urnas eleitorais. Realmente há uma regressão. Ora se nem defecar em local adequado sabemos mais.
Todos têm fome e sede, uns de comida e água, outros de dinheiro e poder.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Des(banc)ando

A partir de agora vou pisar e esmagar as suas citações
sabe, hoje acordei meio mortiça, vou bancar a má.
Alguns venenos precisam ser injetados,
não temos uma seringa, então peço licença poética para desnudar algumas palavras.
Vou arrancar-lhes a toalha e puxar sua pele até ver sua carne e osso.
Feito isso vou fervê-las e impregnar o ar.
A partir de agora entrará numa superfície degradadora e doentia,
tampe os ouvidos, é temporal mas é profano.
Cuidado, bibelô!
Você é peça frágil do enfeite e
Há cacos de vidro e um campo minado cheio de alfinetadas por de baixo de seus pés.

Entre parênteses

Observo seu abdômen inflando e contraindo com a respiração.
Do outro lado uma caneta balança pra lá e pra cá, batendo na ponta da mesa. Algumas conversas que não escuto bem sobre o que é, mas há uma certa empolgação no que contam as duas meninas atrás de mim. No bloco de cadeiras ao lado percebo uma movimentação constante até que as coisas vão se sossegando, e já não há quase barulho.

(Por outro lado, querido Toni,
segues por aqui, por detrás desse pano amarelado e desbotado.
Anda de um lado pro outro exalando poesia e Chico Buarque.
Ah, e como anda!
Acha tudo bonito, tudo muito Toni,
você no meio bossa
e eu tilintando no meio nova.)

quinta-feira, 12 de abril de 2012


Respeitável público, sejam bem-vindos à nossa sala!

Permitam-nos evolve-los em nossa áurea, neutralize cada fio que amarra seu corpo ao chão. Desprendido, sinta a nossa melodia entrando levemente como um sopro faceiro e escorregando por seu corpo, sinta no ar um perfume suave de brigadeiro. Sinta a emoção e escute as vozes e falas atropeladas, buzinas e aviões na Avenida.Quando perceber estará vendendo brigadeiros na Avenida Paulista com amigos incríveis e maravilhosos. Você é nosso agora! rs

É gente que guarda na ponta dos dedos um amor puro, vai espetando com agulha e misturando cor na avenida, com amores furadinhos. rs  Deixem-nos passar!
Gente que tira foto. Gente que dança. Gente que canta. Gente que sente. Gente que conta. Gente que sonha. Gente que vai. Gente que passa. Gente que fica. Gente que sente. Gente que conta. Gente que sonha. Gente que chora.
Gente que guarda trouxinhas de amor, que doa seu corpo para a Arte. Gente como a gente. Gente que a gente sente saudade, que faz pedir pra entrar nesse momento de novo. Me largaria em suas mãos tranquilamente, vai Artefato arrumem suas caras lavadas e tirem suas roupas de guerra do armário, estamos nos preparando para sair, em breve o trem da alegria vai passar e a verdade é que não podemos mais esperar. Sabemos do preto e branco e do colorido da nossa Terra, temos no corpo o artefato pra mudança, há muito o que fazer. 
O mais fascinante é que não há uma receita de bolo, fazemos o que nos dá na telha e flui numa sincronicidade que há laços nos envolvendo por toda parte. Muito BOOM BOOM JACUTINGUELÊ para nós!



sábado, 7 de abril de 2012

Má safra

     Incrível como há época em que queremos algos mais. Uma súbita necessidade de alguma coisa acontecendo e interferindo nos momentos vagos. É como uma cena  sem acontecimento no teatro, em que o público cai na fácil dispersão.
     Há tempos que eu gosto de ficar quieta, imóvel, só observando a ação física alheia e que bom seria dedos passeando pelo meu cabelo, acompanhados de falas soltas no ar, leves e abundantes. Pernas macias e uma barriga aconchegante próxima aos meus ouvidos. Um momento afável e tranquilizador, sem pressa e despreocupado.
     Agora tem umas pessoas que dá vontade de sacudir pra saber o que tem dentro, não é possível que um saco de batatas seja recheado só de batatas, se não em tempos de má safra será só um saco vazio. Joga tempero e passe bem, coisa sem sal e mal passada a gente não sacode, só desisti e abandona.

Minhas tardes com Margueritte

"Um encontro pouco comum, entre o amor e a ternura, não tinha outra coisa. Tinha nome de flor e vivia entre as palavras. Adjetivos rebuscados, verbos que cresciam como a grama, alguns ficavam. Entrou suavemente deste o cortex até o meu coração. Nas histórias de amor há mais que amor. As vezes não há nenhum "eu te amo", mas... se amam. Um encontro pouco comum. Eu a conheci por acaso num parque. Ela não ocupava muito espaço, era do tamanho de uma pomba com as suas penas. Envolta em palavras, em nomes, como o meu. Ela me deu um livro, e outro, e as páginas se iluminaram. Não morra agora, há tempo, espere. Não é hora florzinha. Me dê um pouco mais de você. Espere!"

domingo, 1 de abril de 2012

Só a bailarina que não tem

Olhos calmos


Nesse momento infiltra na corrente sanguínea dela uma dose de serotonina.
Trêmula, ela vai despindo o espírito por partes.
Atingido o cérebro, ela entra em estado de divã.
Num oásis espiritual, acaricia com ternura sua pele.
Desliza, tranquila, os olhos calmos por seus móveis cor areia e descansa.
Das pontas dos dedos e dos confins do abdômen, uma energia vem rasgando e espirrando fios gelados que dão arrepios em seu corpo. Essa energia chega à mente e a digeri.
A paisagem é tão bonita lá fora que pede pra ficar.
O calor de outra pele tranquiliza que faz bem, olhos expressivos e cativantes fazem ficar por tempos naquele estado. E a respiração inquieta de passarinho deixa a mão repousar em seu peito, próximo ao coração.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Pastel

Alumiou o céu coberto
de um branco ofuscante, escapou
o feixe de luz, como distração
timidamente tilintou no chão de concreto uma gota.
Inundou os tecidos e despiu as moçoilas.
Vivenciou as cores e deu luz à nova estação,
desencadeou ventos soltos e ondulatórios.
Ventos tão precipitados e jovens que grunhiu sonoridades pasteladas e fez tardes acastanhadas.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Pá Pum!

Ouvi dizer sobre a felicidade
me atrevi a experimentar uma colher de chá.
Foi como a nicotina infectando meu corpo,
criou raízes entrelaçadas por entre minhas costelas e abriu meus braços.
Meu coração aberto ao mundo, foi só aceitação.

sábado, 3 de março de 2012

Cromoterapia

                                                                                   











Ouço palavras limpas, em lilás.
Subo mais um pouco e posso sentir uma leveza sutil,
o calor das cores vão desencapando cada elo entre o corpo e o espírito.
Pelo verde das folhas pós-chuva entro numa dimensão instigantemente engolidora,
permaneço lá por tempos amarelos e saio.
Ouço o laranja convidativo e vou indo no sambalêlê
crio em mim uma atmosfera vermelha e deixo estar, 
aceito silêncios e não leio sorrisos.
Interessante é aceitar trazer a paz de espírito e ficar em paz.

"E a vida? é bonita e é bonita!"

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Conspirações

Titulando escolhas e rotulando tipos
estou quieta observando a rua
me deixo na espera e saio por aí
ganho a rua e vou no ritmo da banda
ah, menino, se você estivesse sentindo esse balanço que sinto agora!

Já dizia Cássia, sou fera, sou anjo, sou bicho
por entre as casas, as vozes fazem música
as luzes da cidade noticiam que já é tarde
e a lua acende o abajur da noite.
Posso sentir o vento esbarrando nas folhas e apaziguando,
há tanta coisa a ser vista e reivindicada mas essa paz me amansa e
sou assim, insegurança disfarçada de tranquilidade.
Na calçada eu volto até mim e me tomo,
sou eu de novo, esperando a banda passar
de novo. E ninguém nem viu.

E eu tava lá, vi tudo de perto.
Os militares eram os raios de sol, infiltrando por todos os lados.
A repressão eram a árvores, desviando o caminho dos ventos.
A mídia oprimida era cidade doentia que já não interferia ali.
E foi tão bonito que amei, sentei e chorei.
Me misturei no verde grama que me envolvia a pele e me fiz natureza.
Fui mãe e natureza, fui verde e fui beleza.
Fui laranjeira e céu, nuvem e mel.

E eu sempre tive amor, nunca o deixei.
é que às vezes a gente dá pra amar gente mal passada,
mas agora sou fina e meu amor é no ponto.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Encanação

A necessidade de dar razão a tudo é terrível.
Um simples deslize e você não é mais quem você era, descobri coisas que deixaram outras bem mais claras. E esse móvel branco já não me conforta tanto. Vejo o incomodo em mim e a inquietação, queria vomitar tudo isso em diálogos hostis dessa babaquice toda. Lendo tudo isso eu quero um tempo, não pra digerir porque não há nada a ser digerido aqui, mas para entrar em mim e me importar comigo. Não sejam mesquinhas a ponto de achar que sabem do que estou falando ou o que sinto. Eu sei do que estou falando e eu sei do que sinto, ninguém é o sabichão da vez e nem mãe de santo aqui pra saber, então voltem com a falta de coragem e maturidade que precisa ser provada pelo simples fato de que não há maturidade, e me poupem dessa chatice toda.
As pessoas se enganam quando acham que certas atitudes são muito óbvias e que significam algo. Há verdade no fazer por fazer, sem motivos ou desejos maiores. A busca por uma causa, motivo ou razão cega toda a visibilidade do sentir, do agora. Falo de viver o que tem vontade, independente do que isso possa significar. Por exemplo, posso mandar flores para uma mulher todos os dias, pelo simples fato de que acho agradável lhe mandar flores, não morro de amores por ela e muito menos choro loucamente. Mas há a dificuldade no "deixar estar", não é mesmo?! Um porre, toda essa conversinha me assimila aos recreios no primário e me enoja. Quero gente de verdade, me deem o que vocês são e eu darei o que eu sou.
Quero minhas veias bêbadas levando sangue destilado agora, sem encanação, quero a insanidade beirando minha lucidez, sem moderação.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

À la Govan Gh




















Enquanto o pincel escorregava na tela

a vida lhe espremia os olhos
entravam sem bater na porta
Epifânio era o que pintava
preferia a casa vazia
mas deixava as chaves na cerejeira
vai saber o que vento traria.

Procriava gritos de desespero
a respiração ofegava e pedia,
pedia muito amor
mas faltava tolerância,
foi desumano.
A depressão vem como um braço que te envolve
te pega no colo e te coloca pra ninar.
Bate nas suas costas e escuta seu choro sem hesitar e sem conselhos.
Te escuta no desespero da sua respiração, transcreve à sua alma o seu redor.
A fraqueza que dá na verdade é a força que teve para segurar tudo, e agora os pés da mesa envelhecida cedem, há a súbita necessidade de uma restauração. Mas que tinta, que material, que propósito?
E há beleza nisso, há humanização. Sentir na pele a dor do mundo e não poder amparar é insuportável.
Mas há beleza nisso.
O que é viver se não sentir intensamente, profundamente, sentir com os olhos, com o coração?

Como um braço que te envolve, te nina.
Mas ora se não há humanização nisso.
Vai menina, viva, ainda há vida, ainda há beleza e amor!
Mas vai!

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Epifania cósmica

Deitou os olhos em minhas maçãs
enquanto isso a falta de amor, em pontos do mundo, matava.
Derretia sorrisos e sons divertidos em meu colo
enquanto isso a ausência de calma, em pontos do mundo, matava.
Deliciava-se com os dedos sujos dos doces da padaria
enquanto isso a fome e a miséria, em pontos do mundo, matava.
Me percebia e cantava nos meus olhos
enquanto isso a falta de alma, em pontos do mundo, apodrecia corpos.
Me acolhia no calor da sua respiração,
e eu me perguntava por que eu posso e outros não?

Deitou o amor em meu colo
enquanto isso, maçãs.
Derretia a calma dos sons,
enquanto isso, o mundo.
Deliciava-se de olhares e almas
enquanto isso as luzes da padaria, do homem.
Me percebia e respirava
e eu me perguntava se ninguém vivia.
Estamos sobrevivendo a cada dia, sem saber como e por que.
A vida ficou pra depois, pra quando eu chegar.

"A mentira secular de trabalhar para viver, e a rotina angustiante de viver pra trabalhar."