segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Ode a fresta

Minha pele parece estar virando do avesso
sinto como se estivesse criando uma extensão
que vai pra fora desse tecido
continuo a costura no vento
e isso coça, coça muito
coça tanto...
Minha pele grade muro
deixe-me passar,
coça tanto,
ou passarei por cima

Minha pele,
eu, que te tinjo de vermelho e te borbulho
só peço mais espaço
que o que tem dentro não cabe mais em mim.
Minha pele,
talvez por alguma fresta que você esqueceu de fechar, 
eu transbordei

sábado, 27 de julho de 2013

RG

Eu achei que meu corpo habitasse a tristeza
mas na verdade é a tristeza que o habita
Sinto como se não fosse durar muito
mas estou durando

Va zi o (sussurro)
sou uma lacuna
um balão de ar que não voa
mas pesa uma espera no meu corpo

Alvaro, tô me afogando.
É uma dor calada em mim
registro do meu corpo
Me a ju da! (sussurro)

quinta-feira, 25 de julho de 2013

O que pinga e o que escorre

Vo cê é uma torneira go te jante que
pin ga
na minha vida
uma go ta que

pin
g

a

de tempos em tempos
em intervalos irregulares
só pra me lembrar

E eu sou a água que trans
...........................................b
.....................................................o
....................................................r
.........................................................d
......................................................a dessa pia e escor
rega até achar o chão frio onde escorro pra todos os lados
até evaporar e beijar seus lábios,
cair para dentro de você e ser
pin go
de torneira que
go


tej
a

Tem horas que não sei mais o que pinga de mim e o que transborda
na verdade há tempos que escorrego e escorro
e você é onda em mim.

O que pinga é inquietação
o que me escorre é um amor que não paga minhas contas
que escorrega de mim para o mundo
num chão frio, de paredes brancas e geladas.
De novo nesse apartamento.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Sou um ilha, eu

Eu sou uma ilha
onde suas ondas não se quebram em minhas pedras
eu sou uma ilha
minhas rochas estão em constante erosão
eu sou uma ilha
amolecida e alagada



terça-feira, 9 de julho de 2013

Ode aos que me desnudam



Tem vezes que meus pensamentos não se concretizam em palavras
vai então buscar noutros pensamentos concretizados o que similariza sua essência
grande Álvaro de Campos, Quintana, Drummond... que transpiram na minha pele.
Suas palavras funcionam como álcool pro meu corpo,
minhas veias embriagadas parecem se sobrepor
e eu fico alagada de sangue vivo.

Não sei mas os efeitos do álcool ou se tudo é poesia
não sei mais se me escrevo
se escrevo pra mim ou pra quem lê
se escrevo de mim pra quem quiser saber
eu sei das minhas linhas carregadas e pesadas de gente
Sei do estilhaço, dos calos nos meus pés e dos cacos miúdos que me sobram.

Eu sou uma ilha.

Quando vejo como o céu cai em cima do telhado,

 quase ouço, no silêncio, a manifestação das nuvens
o som de mar e seu gosto salgado de mar e sia.

sábado, 1 de junho de 2013

Beira psicótica

O sol vem como balde,
a noite água fria.
Não costumava faltar açúcar
até que virei mar

Às vezes não tenho certeza
se o que vi passou muito rápido
que nem lembro
ou minha memória que passou.

Não tem ninguém pra vassourar essa poeira
até disso desapeguei
Não quero mais nada que me lembre alguma coisa que foi e não é mais
Não sei lidar com saudade
E você é tão comum que eu nem sabia
pra dar indiferença e virar a cara
tem em qualquer lugar virando a esquina.

Se existir gente de verdade
que eu tenha a sorte de amá-las algum dia

Segurem essa louca
fragmentada
que explode dentro
e respira fora.
Ponham esse disco pra tocar
alucinado
até não caber nessas paredes

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Horário de luz natural do pacífico

Pra onde vai essa água
que passa varrendo
a fome, a tortura, a desumanidade
do alcance da nossa visão?

Eu vejo tudo isso passando
mas passando
correndo de mim
pra desaguar em algum lugar

Me digam as fontes dessa correnteza
o que guardam meus olhos que isso não pode alcançá-lo?

As vezes tenho vontade de saber se no meu céu brilham tantas estrelas como o seu. Se explode tantas guerras no seu mundo como explode no meu. Se escorre tanta dor. Se a queda é tão profunda. Se você também nasceu caindo. As vezes eu tenho vontade. Seria mas fácil se você tivesse pele azul, andasse com o nariz no chão, se eu tivesse te achado de ponta cabeça numa árvore... seria mais fácil saber que você veio de outro planeta. Mas você é tão igual na forma que me faz ter vontade de saber.

A forma da fome

São tantas formas
São tantas fomes
Que não sei com o que
matar essa sede

Minhas roupas estão crescendo
minha comida, líquida
minha vida, de ponta cabeça
minha arte, acolhedora
Não caibo

É a forma do mundo que não me agrega
ou é a minha forma que não se adapta?

Debaixo dos meus tecidos
estou alucinada
meu sangue de lá pra cá
mas esse ar que passa transforma tudo em interrogação
Entrei numa encruzilhada

Quem são vocês?
O que guardam no meu peito?
Não me cabe saber
Não entendo
Não me cabe

terça-feira, 14 de maio de 2013

Polí(do)tico

Tem algo de político
por aí
caminhando pelas mãos
olhando tudo de ponta cabeça
porque por mais que 'pro povo' seja
pra esse povo nunca chega

Água morna, pedra dura

Tem horas que enquanto eu falo
eu deixo de existir
algumas palavras ficam pálidas e se desfazem
e como se eu tossisse poeira
nada do que sai faz sentido na minha boca

E repousa em minha garganta
o que tenho pra dizer
trancado em meus ouvidos o que as pessoas não dizem
é um cansaço do morno
esse mundo não tá quente
nem tá frio

e as pessoas tem horas
são pálidas
empoeiradas
sem boca
sem vontade
sem surpresas

Falta mar na minha janela,
continua faltando
mas agora também falta gente de verdade
quentes e frias.

domingo, 14 de abril de 2013

Com tempo (râneo)

Aquele tempo que vai sendo devorado
pela brevidade de um bocado de alguma coisa
essa coisa que também está sendo comida
e tudo vai desaparecendo sem voltar nunca mais
nem fotografias
nem palavras
só dentro, dentro, aqui, no corpo.

Se eu paro
escuto o assovio do tempo passando
esse trem indestinado
que vai porque tem que ir
acontecer

Cadê isso que, enquanto eu pisco,
se esconde de mim?
E essa inconstância que se move,
arrasta.
O livre e quebradiço, tempo.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Cabimento

Pensei numa época de pessoas, coisa boba, mas minha paixão rompe com os limites. Eu amo mesmo. Amo quantas pessoas no meu amor couber e pra quem acha que isso não é amor, eu sou mulher da cabeça aos pés. Posso te guardar apertadinho mas sem faltar amor, talvez eu me falte mas eu volto sempre. Porque a gente é assim, olha pro lado e se apaixona, coisa boba. Mas amor é amor, antigo, novo, não muda. Transforma, fica maior e as vezes dá pra amansar de mansinho.

Vai correr de mim, mar
virar queda d'água
inunda meu peito
congela meu tempo
vai mar de mim
d'água quedarse
peido inundado
meu tempo congelado.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Vai menino

Vai menino, vai ver o que te espera do outro lado da parede.
Vai que a porta tá aberta
O tempo tá úmido e a brisa que vem é leve
Tem amor debaixo das cobertas
tá batendo um coração por você,
vai que ele acelera só de pensar em ir.

domingo, 10 de março de 2013

Fluidez

O amor vermelho sangue ficou na ponta do pé
soprou o vento vivo verde
se arrebentou e se espalhou pelo chão preto
foi amor vermelho sangue pra todos os lados
Aquele amor líquido água
daquele corpo gasoso ar
naquele chão sólido pedra

Passou o rodo, levando o concreto
impregnou no chão o abstrato
evaporou
Respiram os homens o ar sangue
misturou-se as veias amor e ódio
naquele corpo poroso
daquela vontade sólida
aquela ação líquida

Esticou-se o máximo que pode
infiltrou até onde pode
atingiu quantos pode
Tocou, rasgou violentamente o peito
e costurou a pele
até caber dentro dela
até estourar no chão de novo.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Se fim

Ela  queria o vento em ambientes de ar-condicionado
Ele pedia ventilador no quintal
Da janela ela tinha a lua luando
Da porta ele via o tempo passando

Ela tinha no corpo a fala
Ele na cabeça as respostas
Ela gritava as palavras que mal sabia usar
enquanto ele desesperava a perguntar

Se eles fossem juntos a estrada não mais seria de mão-dupla
Se eles fossem pro que viesse, juntos, o dia teria mais tempo
Se o carnaval não tivesse fim a dor rasgaria a festa.

Mas se, se eles, se fossem, se viessem, se juntos, se carnaval, se dor e fim.

Ela queria no mar as ondas
ela queria na vida movimento
ela quer amor na terra
amor de terra
de barro
de lama
de cama
de dama
ama
ma.


quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Mas meu amor,...

Deixo versificado uma parte do meu amor
para poder tê-lo comigo sempre que o ler nas minhas linhas
vou deixar guardado aqui também o mar
para poder senti-lo mesmo longe

Esses olhos que me beijam
e essa boca que me olha,
sua presença
passa por mim

E quando passa o que fica
é só uma xícara de café
e duas colheres de amor,
o suficiente para me manter acordada
e o coração pra fora do peito.

Não é estar apaixonada só
é estar-se amor,
vermelhar o coração
só por estar, mesmo sem ter alguém
mas tendo, sem que ninguém saiba.




domingo, 6 de janeiro de 2013

O Sol que se põe

Uma rede de furos
por onde escapam os peixes

Os peixes estão na rede
as pessoas trancadas
as mãos apoiadas
e o pulso não pulsa como antes

A gente que vem
e a gente que vai
é a mesma gente

O sol já se pôs,
eu já vi meu rosto no anoitecer
e o mundo ainda é uma ilha,
as pessoas vazias e as garrafas cheias

O contato é estranho
e o mundo desconhecido
e isso é maravilhoso
pelo simples fato de ter contato a ser estabelecido ainda
e mundo a ser descoberto,
ainda há chance de vida
pra gente ser gente