quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Síntese de um mal-humor












Ufa!

Tava precisando respirar,

pra não xingar e ser extremamente sincera e desagradável.
É nessas entrelinhas que a gente se esconde.

Tragam-me o termômetro e mais um comprimido e se possível uma garrafa de vinho, podem sentar-se e permanecer calados. Vou atingir vocês pelo meu silêncio, vocês falam demais, me cansa.

Senhoras, por favor, não alimentem os animais.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Estabeleça contato

Escaldar com água quente
derramar amor em mim
deixar formas na pele ao invés de pegadas no chão
sentir o perfume molhado do vento frio

Vai chover amor,
os homens lavarão a calçada do ódio
As farpas vão corroer as tuas ideias, te deixando exposto.
Vou te conhecer pelo amor que vai te enxugar a pele.
Levantarão a poeira da generosidade
e aos poucos irá impregnar,
começando pelos seus pés, uma energia
ela tomará você, vai ser maior que o corpo
o universo vai sussurrar deliberadamente o amor em seus ouvidos
e alucinantemente você vai virar gente.

Seus lábios serão de ternura,
seu olhar perfurante
Vai entrar na alma,
será assustador mas
será gente.
Da suas pálpebras escorrerá saudade
nos teus dedos terá um filtro,
estabeleça o contato.
Câmbio.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Apele

Pele pra quem sente
Pele com pele
Pele com grama
Pele na lama
Pele no vento
Pele do tempo
Pele do corpo
Pele queimando
Pele sentindo
Pele enrugando

Pele pra quem tem
Pele no peito
Pele que protege
Pele que absorve
Pele exposta
Pele escondida
Pele em movimento
Pele de tocar
Pele que estica
Pele que fica
Pele pra furar,
Pele pra amar
Pele de sentir outra pele.
Pele que respira
pra pele que transpira.

Pele sua, pele minha, pele nossa
pele pra sentir na pele.
Pele que pede pele.

sábado, 15 de setembro de 2012

Dia de deixar

Desde que seja amor, que venha rasgando
Porque hoje as luzes estão coloridas
a estrada tá boa
e pra ver as estrelas é preciso dedicar um tempo à cada uma

Tem um Bob Dylan na gaita
o copo cheio de devaneios
e meu corpo pedindo malemolência

Desde que seja leve, que venha pra ficar
e ir embora
Porque eu sempre vou,
às vezes volto.
Sou um balanço no parque
e que me leve o vento...
Deixa ir, ficar, tocar, beijar, amar... hoje só vamos deixar.

Vai, que hoje é dia de deixar pra lá
de dar um chega no aborrecido
de ser gente feliz
Vai, que o farol abriu e a avenida é longa.
Aumenta o som, sente ele te infiltrando,
Molhe os pés e deixe ao vento, deita o corpo, esquece a mente... viaje.
Quem é você agora?
Ninguém, eu não quero ser ninguém além de mim.



terça-feira, 11 de setembro de 2012

Solto

Quando as mão se cansaram do esforço, soltaram
Dentro dessas patas felpudas e graciosas tinham garras.
Não foi um solto qualquer por aí
Foi uma tragédia solta.
Rasgada, dilacerada.

O ruim da ferida exposta é que não tem band-aid que disfarce
Aí você pode ser quem quiser mas tua ferida não te engana.
Dá onde vem esse roxo em tua perna?
Por onde andas com esse pé calejado?
Com quem te deitas com essas costas marcadas?

Com o pouco que lhe resta de dignidade,
o caminhar pesado e vagaroso, responde:
Tive um dia difícil
Roxo vem de um acidente que vi
Meus calos, da árdua rotina de nossos trabalhadores
Me deito sozinho, minhas marcas são lágrimas do meu corpo em deleite.
Mas isso pouco me importa, a gente sabe se virar como nunca antes nos viramos.
E você, por onde deita seu coração?

Tem bichos nojentos debaixo desse manto
e cada vez que você insiste nessa farsa
eles te comem pela alma.

domingo, 9 de setembro de 2012

Chorinho

Tô cansa de cuidar de mim,
de fazer comida todo dia,
de me preocupar com a limpeza da casa,
de verificar se o lixeiro passou,
de aspirar a casa,
de tirar a poeira.

Quero passar um dia na cama, deitada no colo.
Quero que me tragam comida feita na hora sem eu precisar levantar,
que sentem todos aqui no chão e que a gente passe o dia inteiro falando
mas sem dizer muita coisa.
Aliás, vocês podem me fazer uma surpresa ?
Daquelas sem data especial para acontecer.
Apareçam na minha porta com uma garrafa de vinho e um colo bom de deitar.
Vou ficar de vento em polpa.

Mas me polpa,
dessa louca que quer cuidar de mim.

Só tô pedindo um pouco de desassossego.
E fica estabelecido que a partir de hoje é proibido passar mais de algumas noites sozinho.
Quem for pego semeando a solidão será severamente punido.

Só tô cansada de ser o estimulo,
o pontapé inicial,
de combinar as coisas,
de decidir coisas.
Alguém decide por mim? Não quero assinar nada, digam que não estou. Saí, fui embora correndo.
Alguém pode combinar as coisas comigo? Me fazer surpresas, ser criativo...
Alguém pode vir me visitar e ficar quietinho, mesmo sem entender nada do que eu faço, quietinho... só ficar comigo.

É que eu não tenho saco pra todas essas exigências,
pra todo esse ritual cafona,
pra comer pelas beiradas.

Só tô cansada dessas marcações,
dessa mecânica de movimentos.
Alguém pode ser espontâneo,
do tipo de ligar, aparecer, brigar quando tem vontade?
Alguém, alguém, alguém?
Tem alguém aí?
E aqui ?

Eu não sei usar essa droga de tempero
Minha comida ou é salgada ou é sem sal.

sábado, 8 de setembro de 2012

Bandeira branca, amor!

O vento balançando a salsinha lá fora,
a Arruda toda chorosa pela carência de atenção.
A samambaia preguiçosa saindo do vaso
na janela a orquídea não se cansa de tomar sol
As margaridas brancas de algodão olham atenciosas para o teto
O hortelã, meu bibelô, todo crescido querendo mostrar-se maduro
As flores amarelas no corredor dançam com o laranja da parede
na área o feijão tá pra dar flor e a
dama-da-noite, dengosa, convida o feijão para um sol malemolente.

No relógio os ponteiros vão vagarosamente passeando no tempo
e na cozinha o cheirinho de pimenta-do-reino
Não sabe o que é especiarias quem nunca sentiu o seu cheiro, vossa majestade.
Um toque macio, daquele creme de morango, na pele e marcas de um pulo de gato nas pernas.

Depois de uma manhã fresca e convidativa
a gente é capaz de renunciar as dores do mundo por um pós-feriado com carinha de sossego
Vou deitar nesse barco e embarcar na ribanceira
que seja leve
mas que eu sinta o frescor das folhas de lima-limão no ar e a água gelada respingando
Se eu te contar que fechando os olhos eu sinto o balancinho pra lá, pra cá, desse rio...
Pernas pra quem te quer!
Eu tô indo nessa viagem porque eu tenho a idade do tempo e ele corre, soltem as cordas marujos, e aos doídos... bandeira branca, amor!
Aos viajantes um até logo e
pro sindico eu deixo aquele abraço!

Au revoir!

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Drogas modernas

Tem alguma coisa nessas tardes desvairadas que passam com a sensação de dia perdido
Dá pra ler nas redes as mesmas coisas de sempre,
há aqueles que se mostram céticos de tudo, não gostam de nada e sempre estão criticando, não gastam tempo falando de si mas usando outros para se mostrar.
Há aqueles que apelam para ser mais que um em um milhão.
Não sei quem eu sou nisso tudo mas
eu sinto uma preguiça de tudo isso, do de sempre.
Num espírito colérico eu vou enojando e silenciando no miudinho, pequenininho
e embebida de tolerância eu acho graça nos comportamentos.
Tá em alta dar nome pra tudo, pra estilo, jeito, comportamento e sei lá,
não me interessa, tenho preguiça.
Confesso que eu sou várias pessoas,
Me despedaço pra depois me recolher e nenhum dia fica igual o outro.
É de lua, de bipolaridade, de sei lá.
Mas se você quiser posso me apresentar.
Sou Ingrid, Renata, Maria, vento, sol, terra, colchão, chão e céu.
Sou isso hoje, amanhã sei lá o que.
Capaz de sentir o vento, imagine então o máximo que a pele pode sentir.

Ontem eu vi um balão,
e o mundo nem sabe disso
Mas se ele soubesse talvez iria compartilhar e curtir
mas só isso.
Ninguém além dos que estavam naquela noite poderá partilhar da minha emoção ao ver o tal balão em noite de lua cheia, céu azul e boas estrelas.

De todos os silêncios eu prefiro o da estrada,
com uma respiração quente nos meus ombros e um calor de outra pele,
isso me acolhe na vida.