domingo, 29 de abril de 2012

Final de Abril

Céu cinzento e nublado
Colcha florida na cama, sutiã e calcinha
e aquele cheirinho de hortelã molhado
chuva lá fora e uma fresta na janela aberta.
Água fervendo no fogão
contagem regressiva de 3 min. no relógio do microondas.
Garfo balançando na mesa ansioso pelos cachinhos da panela.
Roupa úmida.
Meias nos pés e um moletom amarelo.
Ao som de Queen o talharim vence o hortelã.
Casa sozinha, 
algumas ligações queridas e um nariz dolorido.
Comprimido alaranjado e um documentário sobre animais selvagens da amazônia.
De volta ao cheiro de hortelã
Um avião passando lá fora
Sem Lua e constelações
Um feriado no calendário e uma cama comigo.
Ás vezes é bom estar sozinha.

Potência

Faltar ao mundo assim como me faltam as palavras
Ganhar a liberdade assim como se ganha o dinheiro
Apontar o dedo com a mesma facilidade de criticar
Expandir os horizontes assim como a rotação da Terra
Unir-se à uma ideologia como um cordão umbilical
Chorar o esforço como se tira o suco de uma laranja
Melancolia.
Aspirar conspirações assim como se lança à lucidez
Intolerância como crise material
Pressão religiosa como forma de amor absoluto
Jesus comercial assim como fiéis fregueses.
Unilateralismo como o maior exército do mundo
Acabar com a miséria impondo poder
À favor da segurança e da paz assim como ser o maior produtor de armamentos
Democracia, clemência, postura e olhar no horizonte.



sábado, 28 de abril de 2012

Vacas Magras

Talvez, quem sabe, estamos em guerra. Tendo em vista que nossos hospitais públicos distribuem leitos pelos corredores nos quais pessoas com aspecto dolorosamente doentio são medicadas, há vômitos no chão, outros estão em horário de refeição e têm em mãos uma marmita surrada. Os sanitários já não têm portas e identificação, o cheiro que se mistura com a cor amarelada das paredes e as ferrugens do encanamento disfarçado na cor branca é degradante. Esses corredores qualquer um tem acesso e pode facilmente trocar ou parar a medicação de um paciente, enquanto outros pacientes em condições não tão piores vagam pelo "hospital". Ora se não é um retrato de um hospital em épocas de vacas magras.
A mãe-natureza dá a luz ao filho homem, este que mais tarde a trai, fere e destrói. Troca sua raiz por alguns sacos de moedas de ouro, e então o antigo filho da natureza se torna uma mercadoria que qualquer um compra, olhando por esse lado até que soa econômico.
Liberdade de expressão, um nome pomposo que se tirar os enfeites vira pó e de brinde um tapete e uma vassoura.
Índio sai, floresta fica. Floresta cai, dinheiro vem. Dinheiro vem, mais índio sai. Espreme-se tudo até a última nota, quando o filho do dinheiro já não sabe mais onde encontrar mais moedas de ouro, espreme seu próprio sangue verde, se destruindo por uma gota de moeda e uma corrente de dinheiro. Respiram cinza e amam menos.
Religião que virou Instituição chamada Igreja e já escravizou o homem em prol do bem-estar financeiro e do poder autoritário, já foi mais esperta que o Pink e o Cérebro juntos e podiam ter dominado o mundo.
Ainda pode-se escutar pelas mídias que os jovens são o futuro da nação. O futuro da nação uma ova. O futuro da nação é todo mundo aqui presente, uma responsabilidade e dever de todos.
Mas o filho da selva de pedra anda ocupado lendo o resumo do circo televisivo e fazendo caca nas urnas eleitorais. Realmente há uma regressão. Ora se nem defecar em local adequado sabemos mais.
Todos têm fome e sede, uns de comida e água, outros de dinheiro e poder.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Des(banc)ando

A partir de agora vou pisar e esmagar as suas citações
sabe, hoje acordei meio mortiça, vou bancar a má.
Alguns venenos precisam ser injetados,
não temos uma seringa, então peço licença poética para desnudar algumas palavras.
Vou arrancar-lhes a toalha e puxar sua pele até ver sua carne e osso.
Feito isso vou fervê-las e impregnar o ar.
A partir de agora entrará numa superfície degradadora e doentia,
tampe os ouvidos, é temporal mas é profano.
Cuidado, bibelô!
Você é peça frágil do enfeite e
Há cacos de vidro e um campo minado cheio de alfinetadas por de baixo de seus pés.

Entre parênteses

Observo seu abdômen inflando e contraindo com a respiração.
Do outro lado uma caneta balança pra lá e pra cá, batendo na ponta da mesa. Algumas conversas que não escuto bem sobre o que é, mas há uma certa empolgação no que contam as duas meninas atrás de mim. No bloco de cadeiras ao lado percebo uma movimentação constante até que as coisas vão se sossegando, e já não há quase barulho.

(Por outro lado, querido Toni,
segues por aqui, por detrás desse pano amarelado e desbotado.
Anda de um lado pro outro exalando poesia e Chico Buarque.
Ah, e como anda!
Acha tudo bonito, tudo muito Toni,
você no meio bossa
e eu tilintando no meio nova.)

quinta-feira, 12 de abril de 2012


Respeitável público, sejam bem-vindos à nossa sala!

Permitam-nos evolve-los em nossa áurea, neutralize cada fio que amarra seu corpo ao chão. Desprendido, sinta a nossa melodia entrando levemente como um sopro faceiro e escorregando por seu corpo, sinta no ar um perfume suave de brigadeiro. Sinta a emoção e escute as vozes e falas atropeladas, buzinas e aviões na Avenida.Quando perceber estará vendendo brigadeiros na Avenida Paulista com amigos incríveis e maravilhosos. Você é nosso agora! rs

É gente que guarda na ponta dos dedos um amor puro, vai espetando com agulha e misturando cor na avenida, com amores furadinhos. rs  Deixem-nos passar!
Gente que tira foto. Gente que dança. Gente que canta. Gente que sente. Gente que conta. Gente que sonha. Gente que vai. Gente que passa. Gente que fica. Gente que sente. Gente que conta. Gente que sonha. Gente que chora.
Gente que guarda trouxinhas de amor, que doa seu corpo para a Arte. Gente como a gente. Gente que a gente sente saudade, que faz pedir pra entrar nesse momento de novo. Me largaria em suas mãos tranquilamente, vai Artefato arrumem suas caras lavadas e tirem suas roupas de guerra do armário, estamos nos preparando para sair, em breve o trem da alegria vai passar e a verdade é que não podemos mais esperar. Sabemos do preto e branco e do colorido da nossa Terra, temos no corpo o artefato pra mudança, há muito o que fazer. 
O mais fascinante é que não há uma receita de bolo, fazemos o que nos dá na telha e flui numa sincronicidade que há laços nos envolvendo por toda parte. Muito BOOM BOOM JACUTINGUELÊ para nós!



sábado, 7 de abril de 2012

Má safra

     Incrível como há época em que queremos algos mais. Uma súbita necessidade de alguma coisa acontecendo e interferindo nos momentos vagos. É como uma cena  sem acontecimento no teatro, em que o público cai na fácil dispersão.
     Há tempos que eu gosto de ficar quieta, imóvel, só observando a ação física alheia e que bom seria dedos passeando pelo meu cabelo, acompanhados de falas soltas no ar, leves e abundantes. Pernas macias e uma barriga aconchegante próxima aos meus ouvidos. Um momento afável e tranquilizador, sem pressa e despreocupado.
     Agora tem umas pessoas que dá vontade de sacudir pra saber o que tem dentro, não é possível que um saco de batatas seja recheado só de batatas, se não em tempos de má safra será só um saco vazio. Joga tempero e passe bem, coisa sem sal e mal passada a gente não sacode, só desisti e abandona.

Minhas tardes com Margueritte

"Um encontro pouco comum, entre o amor e a ternura, não tinha outra coisa. Tinha nome de flor e vivia entre as palavras. Adjetivos rebuscados, verbos que cresciam como a grama, alguns ficavam. Entrou suavemente deste o cortex até o meu coração. Nas histórias de amor há mais que amor. As vezes não há nenhum "eu te amo", mas... se amam. Um encontro pouco comum. Eu a conheci por acaso num parque. Ela não ocupava muito espaço, era do tamanho de uma pomba com as suas penas. Envolta em palavras, em nomes, como o meu. Ela me deu um livro, e outro, e as páginas se iluminaram. Não morra agora, há tempo, espere. Não é hora florzinha. Me dê um pouco mais de você. Espere!"

domingo, 1 de abril de 2012

Só a bailarina que não tem

Olhos calmos


Nesse momento infiltra na corrente sanguínea dela uma dose de serotonina.
Trêmula, ela vai despindo o espírito por partes.
Atingido o cérebro, ela entra em estado de divã.
Num oásis espiritual, acaricia com ternura sua pele.
Desliza, tranquila, os olhos calmos por seus móveis cor areia e descansa.
Das pontas dos dedos e dos confins do abdômen, uma energia vem rasgando e espirrando fios gelados que dão arrepios em seu corpo. Essa energia chega à mente e a digeri.
A paisagem é tão bonita lá fora que pede pra ficar.
O calor de outra pele tranquiliza que faz bem, olhos expressivos e cativantes fazem ficar por tempos naquele estado. E a respiração inquieta de passarinho deixa a mão repousar em seu peito, próximo ao coração.