sexta-feira, 7 de março de 2014

Marejando

Essa cidade comeu a sola dos meus sapatos
andei pisando e descobrindo que existe um chão
apesar das nuvens passarem depressa marcando o tempo
como se levassem um pedido de socorro
tirem-me daqui!

Meus pés secam por falta de água
é difícil viver dentro de um sapato 34
meus joelhos ainda estão ralados, desde meus 10
minhas utopias agora lutam com o meu senso de realidade
meus olhos... esses sempre alagados, marejando

Me sinto uma camaleoa das minhas emoções
Me apaixonei
Estou me desfazendo, sou uma construção em andamento
passeio com os olhos cheios de André
deito minhas mãos em outras mãos
não há palavras a serem buscadas

Um ser estranho, irreconhecível
Mundana
Um amor que precisa ser reinventado
libido insaciável
Me engula
Fodidamente retorcida,
escapando.
Não deixe!
Minha insanidade: uma carnificina

Por ora, água sangrenta
outrora água doce, desaguando
Leve




segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Ode a fresta

Minha pele parece estar virando do avesso
sinto como se estivesse criando uma extensão
que vai pra fora desse tecido
continuo a costura no vento
e isso coça, coça muito
coça tanto...
Minha pele grade muro
deixe-me passar,
coça tanto,
ou passarei por cima

Minha pele,
eu, que te tinjo de vermelho e te borbulho
só peço mais espaço
que o que tem dentro não cabe mais em mim.
Minha pele,
talvez por alguma fresta que você esqueceu de fechar, 
eu transbordei

sábado, 27 de julho de 2013

RG

Eu achei que meu corpo habitasse a tristeza
mas na verdade é a tristeza que o habita
Sinto como se não fosse durar muito
mas estou durando

Va zi o (sussurro)
sou uma lacuna
um balão de ar que não voa
mas pesa uma espera no meu corpo

Alvaro, tô me afogando.
É uma dor calada em mim
registro do meu corpo
Me a ju da! (sussurro)

quinta-feira, 25 de julho de 2013

O que pinga e o que escorre

Vo cê é uma torneira go te jante que
pin ga
na minha vida
uma go ta que

pin
g

a

de tempos em tempos
em intervalos irregulares
só pra me lembrar

E eu sou a água que trans
...........................................b
.....................................................o
....................................................r
.........................................................d
......................................................a dessa pia e escor
rega até achar o chão frio onde escorro pra todos os lados
até evaporar e beijar seus lábios,
cair para dentro de você e ser
pin go
de torneira que
go


tej
a

Tem horas que não sei mais o que pinga de mim e o que transborda
na verdade há tempos que escorrego e escorro
e você é onda em mim.

O que pinga é inquietação
o que me escorre é um amor que não paga minhas contas
que escorrega de mim para o mundo
num chão frio, de paredes brancas e geladas.
De novo nesse apartamento.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Sou um ilha, eu

Eu sou uma ilha
onde suas ondas não se quebram em minhas pedras
eu sou uma ilha
minhas rochas estão em constante erosão
eu sou uma ilha
amolecida e alagada



terça-feira, 9 de julho de 2013

Ode aos que me desnudam



Tem vezes que meus pensamentos não se concretizam em palavras
vai então buscar noutros pensamentos concretizados o que similariza sua essência
grande Álvaro de Campos, Quintana, Drummond... que transpiram na minha pele.
Suas palavras funcionam como álcool pro meu corpo,
minhas veias embriagadas parecem se sobrepor
e eu fico alagada de sangue vivo.

Não sei mas os efeitos do álcool ou se tudo é poesia
não sei mais se me escrevo
se escrevo pra mim ou pra quem lê
se escrevo de mim pra quem quiser saber
eu sei das minhas linhas carregadas e pesadas de gente
Sei do estilhaço, dos calos nos meus pés e dos cacos miúdos que me sobram.

Eu sou uma ilha.

Quando vejo como o céu cai em cima do telhado,

 quase ouço, no silêncio, a manifestação das nuvens
o som de mar e seu gosto salgado de mar e sia.