domingo, 28 de agosto de 2011

São Paulo, xx de xxxxxx de xxxx

Ontem fui visitar um centro espírita, o qual tem um projeto para alimentar e doar roupas para os moradores de rua, similar ao nosso projeto do Artefato. Pois bem, fui lá ver como era. Chegamos no finalzinho da "preparação espiritual" e ajudamos a embarcar as coisas nos carros. Levamos sopas, lanches, sucos, café, chocolate quente e roupas. Entramos no carro e tudo fluía muito bem, o sentimento era de ansiedade, pois nunca tinha ajudado tanta gente que precisa, assim, dando atenção. Chegamos na primeira "parada" e alguns moradores já começaram a aparecer. Um casal, a mulher engravidou e seu filho foi tirado de seu ventre direto para o conselho tutelar, já não se trata só de uma moradora de rua, estamos falando de uma mãe que teve seu filho tirado de seus braços e sem argumentos que justificassem a permanência da criança ao seu lado, ela partiu e sabe lá quando essa mãe verá seu filho novamente. Fiquei sem saber o que pensar da situação, ao mesmo tempo que é cruel tirar um filho dos cuidados e carinhos da mãe, que assistência essa poderia dar para que essa criança cresça saudável? Para que tenha uma educação. Como era de se esperar eu cheguei a conclusão de que a resposta sempre seria o sistema. A culpa de tantas pessoas na rua, a culpa de filhos arrancados de seus leitos maternos, a culpa pelo aumento da marginalidade, afinal temos que viver, e a sobrevivência nos torna primatas, somos capazes de tudo. E o sistema, também é capaz de tudo, mas esse tudo só nos tritura com insignificância. Todos querem vida mas são poucos que sabem o que fazer com ela. 
Fomos para outra parada, grande senhor apelidado de "Mick Jagger", nos deu uma aula de sanidade, pediu que orássemos, eles oraram, dei as mão com a minha energia concentrada para que essa possa acrescentar amor e esperança naquela alma, não rezei mas desejei todo o bem para ele. Cada um tem sua crença, alguns precisam se firmar em algo que não há explicação para criar um sentimento de fé e esperança, se ele precisava disso, eu respeito. Pedi um abraço dele antes de ir embora, enquanto me abraçava ele me dizia: "Obrigado, obrigado mesmo. Você não sabe o quanto eu precisava desse abraço." Uma lágrima caminhou por minhas maçãs do rosto e se afogou em minha boca, desisti de buscar palavras, ele não precisava e nem esperava por uma resposta, o meu abraço disse tudo.
Em seguida veio o "Saron" Guimarães, um poeta e escritor. Saiu de casa cedo, teve uma vida muito difícil nas ruas, meus olhos gritavam de desespero e revolta, explodia em lágrimas. Era seu aniversário, cantamos o "parabéns" e ele agradeceu dizendo que ele não é "coitadinho" mas mesmo não sendo a família dele cantando, o "Parabéns" foi tudo que ele queria aquela hora. Nos recitou alguns de seus poemas, dizendo pedir licença para a constelação para poder falar das estrelas. Meu Brasil, o que você está fazendo com seu povo? Um homem apaixonado por São Paulo, um poeta, um escritor, um brasileiro, um paulistano orgulhoso.  Engraçado ele dizia a todo momento que não é e nunca foi "coitado", um morador de rua disse isso, meu povo. E homens e mulheres bem sucedidas em suas carreiras, com status e se fazendo de coitado, políticos em rios de dinheiro mentindo, se vitimizando. Meu Brasil, quando você vai perceber o que está fazendo com nossos artistas, com poetas, com cultivadores da nossa língua? Um país de todos? Qual a sua cara? Qual é o seu negócio?... confia em mim?
Mais adiante encontramos o Sandro. Natural da Paraíba, que lugar maravilhoso, que pôr-do-sol! Perdeu os pais e veio pra São Paulo com a Irmã, a qual casou e pediu para que Sandro fosse embora. Esse foi embora sem nada, deixou tudo pra trás e foi embora com sua bolsa de lado. Chorava a todo momento enquanto conversava comigo, e eu o acompanhava. Foi atrás de outros parentes no Rio de Janeiro e o que recebeu foi apenas rejeições, mas como é outro apaixonado por São Paulo, voltou para ruas da Capital. Ele fez uma queixa que me comoveu muito. "Eu vou encostar nas pessoas porque eu sinto falta de alguém pra conversar, é muito ruim você ser sozinho, e elas se afastam, te ignoram, como se eu não fosse nada, isso é muito, a gente se sente um nada, como se não existisse" Como se não existisse? Cade os seres humanos? CADÊ A HUMANIDADE? Não basta só sapiens, é preciso saber fazer parte do Homus. Vocês são os animais, vocês são os desumanos,  vocês não percebem que eles são tão humanos quanto vocês. Engula seu egocentrismo e finja que você vive, não sabe nem ser humano como vai saber viver? É indescritível a revolta que toma conta de mim por essa situação, queria poder gritar e expressar no meu grito tudo que eu sinto e que esse grito ecoasse por todos os cantos e fizesse parar tudo por um tempo, para que cada um pensasse no que está emitindo para o mundo, o que estamos fazendo com nossa raça. Ó mãe natureza  só você pode servir de exemplo e nos salvar. Purifique esse mundo. Entre nesses corpos, nessas máquinas, e os façam criar uma alma dentro deles 
Enquanto distribuíamos os lanches e a sopa e as roupas, eles ficavam segurando o lanche e vinham conversar. Mal sabe vocês que embaixo desses viadutos e espalhado pelas calçadas muita história habita, onde mora o retrato da nossa sociedade, esse é o grande problema. Aparecemos na foto como protagonistas, quando na verdade somos coadjuvantes. O meu Brasil, a minha São Paulo está na rua, está com fome, morrendo de frio, desemparado, sozinho. Se não salvarmos nosso povo, o mundo caminhará cada vez mais rápido para a autodestruição da raça humana.

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