quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Pra uma grande amiga,

Aí Isa, queria poder resumir tudo que se passa por aqui, como quase congelei ontem a noite, vi meu braço ficando roxo com algumas pintas vermelhas, falar de sensações inigualáveis pelas quais coisas maravilhosas estão me fazendo passar, dias de céu extremamente azul e noites de frio congelante. Foram tantas e ao mesmo tempo tão pequenas minhas andanças por aí, mas me mudaram monstruosamente, aqui onde estou  não tem computador, nenhuma forma de rede me rastreia, estou livre como um pássaro mas presa à sobrevivência. Sinto não ter te escrito nos últimos meses, talvez, aqui nem o tempo me faz pressão.
Estou escrevendo essa carta com o que sobrou da semente de uma fruta aqui na amazônia, hoje a noite juntarei alguns bons galhos para fazer uma fogueira, aquele isqueiro que você me deu está sendo muito útil mas logo acabará o gás, que estou guardando racionalmente para dias de extrema utilidade. Achei uma semente de açaí ontem, apesar de amarga foi o açaí mais lindo e apetitoso da minha vida. Aprendi a me virar em poucas palavras, a gente só percebe o quão pequeno e inesgotável somos quando lidamos com a natureza de igual pra igual. Passei e passo muitas dificuldades aqui, não está sendo fácil, me permiti entristecer diversas vezes, no começo foi muito difícil.
Lembra do forasteiro que eu disse ter encontrado naqueles tempo, logo que me achei aqui? Pois é, só me resta uma vaga lembrança dele, às vezes se confundi com sonhos, ando sonhando muito. Sonhei com uma árvore de suco de soja sabor maçã, ontem, mas queria ter sonhado com o meu forasteiro. É que no momento não sei o que desejo mais, mas confesso que a árvore era tão apetitosa que podia ter sido real.
Aqui faz muito calor, tomo banho arriscando a vida em meio a peixes venenosos mas é uma aventura que eu me submeto com o maior prazer, gostaria de compartilhar meus dias de banho com você, uma felicidade tamanha, meu corpo floresce, meus pés gritam pra se enraizar nesse momento, minha mente desfruta cada gota d'água que vem de encontro á minha pele trêmula e sensível. Sinto falta de abraços, a natureza me abraça muito, mas quero sentir um coração alheio batendo no meu corpo. Sinto falta do calor de uma respiração enquanto falam comigo, sinto falta de vozes humanas.
Espero que as coisas aí estejam bem, que você ande tomando muito sucos de soja sabor maçã e dando muitos abraços e sentindo muitas respirações, quando sentir saudade me lembre e me diga bem baixinho que me ama. Minha amiga, eu te amo. Nem sei se ainda recebe minhas cartas, vai saber se não se mudou... mas essa sensação de estar falando com você me conforta, nos dias de extrema solidão e nos de felicidade tamanha.

Um grande beijo, com abraço, respiração e suco de soja sabor maçã.

4 comentários:

  1. Isto é completamente metafísico? Ou posso considerar o seu post uma mescla de sensações físicas e metafísicas? Em suma: esteve mesmo na amazônia, de corpo e alma, ou apenas alma? Apenas corpo as primeiras linhas mostraram-me que não...

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  2. Foi uma das minhas andanças por aí... hahaha

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  3. Menina viajada, então... na próxima, me chame!

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  4. hahhahah todos deveriam experimentar!

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